sexta-feira, 28 de novembro de 2008

24 de novembro CARUARU

Terra de muitos nomes, artistas e fatos importantes. Caruaru homenageia o Mestre Vitalino e o Mestre Gaudino, assim como seu filho adotivo Luiz Gonzaga e acima de tudo, Caruaru possui a maior feira a céu aberto do planeta. Só entrando nela e passando algumas horas lá para ter noção do que é essa feira.

Vou comentar um pouco sobre esses nomes, artistas e fatos desta cidade:

1. Vitalino Pereira dos Santos, Mestre Vitalino, consagrou-se com sua arte de fazer bonecos em Caruaru, onde nasceu, perto do rio Ipojuca, em 1909.

Mestre Vitalino trabalhando suas esculturas no barro


Seu pai, humilde lavrador, preparou o forno para queimar peças de cerãmica que sua mãe fazia, para melhorar o orçamento familiar.
Sua mãe artesã, preparava o barro que ia buscar nas margens do rio Ipojuca. Depois, sem usar o torno, ia fazendo peças de cerâmica utilitária, que vendia na feira. Levava a cerâmica nos caçuás (cestos grandes) colocados nas cangalhas do jegue (burrico).


Ultima casa de mestre Vitalino, hoje transformada em museu

Ainda pequeno, Vitalino ia modelando boizinhos, jegues, bonecos, pratinhos com as sobras do barro que sua mãe lhe dava, para que não atrapalhasse e ao mesmo tempo se divertisse.
Quando a mãe colocava as peças utilitárias para "queimar" no forno, ele colocava no meio as suas figurinhas, suas miniaturas.


Interior da casa do Mestre Vitalino

Os seus pais iam à feira semanal, o pai carregava os frutos do trabalho agrícola, a mãe carregava o jegue com os caçuás, para levar a terra trabalhada - a cerâmica utilitária.
O menino Vitalino levava o produto de sua "reinação", da sua brincadeira e vendia.

Por volta de 1930, com 20 anos de idade, Vitalino fez os seus primeiros grupos humanos, com soldados e cangaceiros, representando o mundo em que vivia.
Sua capacidade criadora se desenvolveu de tal maneira que acabou se tornando o maior ceramista popular do Brasil.

Sverino, filho do mestre Vitalino, conserva a casa do pai como um monumento e ali trabalha com seus filhos e netos perpetuando os ideais do pai e avô.


Fazia peças de "novidade" - retirantes, casa da farinha, terno de zabumba, batizado, casamento, vaquejada, pastoril, padre, Lampião, Maria Bonita, representando seu povo, o seu trabalho, as suas tristezas, as suas alegrias. Retratava em suas peças o seu mundo rural.

Esta foi a grande fase do Mestre Vitalino, que imprimia no massapé a sua vivência.
Mais tarde começou a fazer obras sob encomendas: dentistas, médicos o
perando... Passou também a pintar as figuras para agradar aos compradores, da cidade, que tentavam "inspirar" o Mestre.
Carimbava as suas peças mas, a partir de 1950, analfabeto qu
e era, aprendeu a autenticar a sua obra, com o seu nome.

Mestre Vitalino Pereira dos Santos faleceu em 1963 deixando escola e continuadores. Seus filhos, Severino e Amaro, continuam a sua obra, recriando no barro os personagens do mundo nordestino.

2. Embora não tenha nascido em Caruaru Luiz Gonzaga, o rei do baião, é venerado nessa terra. Lá possui um grande memorial e uma estátua em sua homenagem. Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912.


Foi um compositor popular. Aprendeu a ter gosto pela música ouvindo as apresentações de músicos nordestinos em feiras e em festas religiosas. Quando migrou para o sul, fez de tudo um pouco, inclusive tocar em bares de beira de cais. Mas foi exatamente aí que ouviu um cabra lhe dizer para começar a tocar aquelas músicas boas do distante nordeste. Pensando nisso compôs dois chamegos: "Pés de Serra" e "Vira e Mexe". Sabendo que o rádio era o melhor vínculo de divulgação musical daquela época (corria o ano de 1941) resolveu participar do concurso de calouros de Ary Barroso onde solou sua música “ Vira e Mexe” e ganhou o primeiro prêmio. Isso abriu caminho para que pudesse vir a ser contratado pela emissora Nacional.



Estátua em sua homenagem


No decorrer destes vários anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz.


Entrada do memorial de Luiz Gonzaga, tendo como guardiães Maria Bonita e Lampião


Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distanciado do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas o velho Lua nunca teve seu brilho diminuído. Quando morreu em 1989 tinha uma carreira consolidada e reconhecida. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia.


Memorial de Luiz Gonzaga

Mesmo tocando sanfona, instrumento tão pouco ilustre. Mesmo se vestindo como nodestino típico (como alguns o descreviam: roupas de bandido de Lampião). Talvez por isso tudo tenha chegado onde chegou. Era a representação da alma de um povo...era a alma do nordeste cantando sua história...E ele fez isso com simplicidade e dignidade. A música brasileira só tem que agradecer.

3. Outro ilustre cidadão da terra é o Mestre Galdino. Ceramista, cantador de viola e poeta de cordel, Mestre Galdino (Manuel Galdino de Freitas) nasceu em 1928 e foi um dos artistas mais famosos do Alto do Moura, em Caruaru. Gostava de fazer moringas e monges, mas sua arte maior estava nos pequenos bonecos de barro. Para cada boneco que produzia, costumava escrever uma história que ia anotando num caderno - chegou a escrever mais de mil histórias.

Vaidoso, quando alguém indagava se havia aprendido o ofício com o Mestre Vitalino, ele respondia em versos: "Galdino é bonequeiro/e sou poeta também/tem boneco em minha casa/que bonequeiro não tem/na arte só devo a Deus/lição não devo a ninguém". Cuidadoso, depois de modelar as peças, deixava oito dias para secar.

Após esse período, as peças iam para o forno (de tijolo, no fundo do quintal de sua casa) e passavam dez horas lá dentro. Finalmente, as peças ficavam mais quatro horas com o fogo apagado, "para desenfornar". Caso não seguisse todo esse ritual, dizia o mestre, "o bicho ficava encruado e feio".

Uma das mais famosas obras do Mestre Galdino, produzida no final da década de 1980, ocupava quase metade de sua mesa de trabalho. Era a história, em barro, de dois irmãos que resolveram casar e pagaram pelo pecado do incesto tendo 118 filhos deformados. Galdino trabalha na sua pequena casa, no Alto do Moura, com ajuda da mulher e dos cinco filhos. Antônio Galdino de Freitas, um dos filhos do mestre, é hoje outro famoso artista do Alto do Moura.

4. Outro destaque de Caruaru é grande, a enorme feira a céu aberto. É considerada a maior feira a céu aberto do planeta e considerada pelo IPHAN patrimônio imaterial do Brasil. No começo era só um caminho que ia do sertão para o Recife. Depois uma fazenda onde José Rodrigues de Jesus mandou construir a capela de Nossa Senhora da Conceição. Aí logo se instalaram uma rua de casas e a feira. A data de quando surgiu o primeiro arruado é discutida. Mas Caruaru e a feira nasceram juntas. É ponto de concordância.

Portal da Feira de Caruaru



Corredores, ruas, ladeiras, praças, becos lotados de bancas de todo o tipo. Segundo um painel local, aqui tem tudo o que o mundo produz, que vai dos eletrônico ao artesanato


O espaço urbano se expandiu ao longo da estrada e, simultaneamente, expandia-se a feira. Mas, se por um breve momento, a feira e a cidade conviveram em harmonia, logo as funções de uma passaram a prejudicar as atividades da outra. Já em 1853, o vereador Caetano Alves da Fonseca requeria que a feira fosse colocada "da casa do capitão Manoel Félix para cima" por sujar a capela da Conceição. Há 50 anos, os jornais faziam a mesma referência. Várias tentativas foram feitas. Em 1922, o prefeito Celso Galvão mandava construir três mercados, o de carne, o de farinha e o de açúcar. A feira já havia crescido e ocupava o "cafundó", atrapalhando o comércio nas imediações. Ao longo dos anos, à medida em que a feira se expandia, mais necessário se fazia encontrar uma situação que permitisse melhores condições para a feira e eliminasse os transtornos que sua localização trazia à cidade. Mas só em 1983 se iniciaria o processo de transferência. O local estava definido. No coração da cidade, vizinho à feira em seu local de origem, estava o "Campo de Monta". É como se tivesse se resguardando, esperando pelo momento em que a harmonia entre feira e cidade se tivesse rompido e a transferência fosse inadiável. Assim, executadas as obras, no dia 16 de maio de 1992, o Parque 18 de Maio estava pronto para receber a Feira de Caruaru. Foi um sonho de 140 anos, um projeto de 9 e uma mudança que se concretizou em um dia. Quando, no dia 16 de maio de 1992 realizou-se a última feira nas ruas do centro da cidade. Cada feirante sabia onde deveria colocar seu banco, sua mercadoria e suas esperanças no dia seguinte. No dia 17 de maio, um lindo movimento de 4.000 bancos de feira deixava o centro da cidade e marcava presença no novo pátio da feira. No dia 18 de maio, a cidade acordou em festa. Era o seu aniversário. Muitos foram à igreja da Conceição e a viram, depois de tantos anos, em sua beleza completa e viram também o parque ocupado pela velha feira. A feira estava transferida e começava um novo capítulo na história de Caruaru.

5. Outro nome de destaque hoje em dia, é nosso presoidente Lula, que nasceu em Caetés, distrito de Caruaru.

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